Três caronas, duas refeições
17/09/15 11:03Depois de 20 minutos, um ônibus com itinerário “Rio Grande” se aproximou e fiz sinal. Ao abrir a porta, o motorista anunciou o preço: R$ 10. Sem muita opção, embarquei nesta carona remunerada.
O motorista me deixou bem perto da balsa que atravessa para a cidade de São José do Norte. Logo na saída da balsa, já do outro lado, um pequeno restaurante servia um PF. Resolvi gastar R$ 15 e matar minha fome, me deixando com um total de R$ 136,50.
Ali perto, encontrei uma velha cabana de madeira abandonada atrás de um posto de gasolina. Nem precisei montar a barraca, entrei dentro do saco de dormir e fechei os olhos.
Encontrei um posto de gasolina e entrei. Fiz amizade com os frentistas, que me desiludiam, dizendo que pegar carona nesta rodovia com chuva é fracasso certo. De qualquer forma, não tinha outra opção senão ficar ali.
Pedi para os funcionários do posto me informarem se algum cliente fosse para Tavares, cidade a cerca de 100 km dali. Logo um frentista correu em minha direção, como se viesse anunciar que eu ganhara um prêmio na loteria.
“Rapaz, o dono daquela troller tá indo para Santa Catarina e pode te levar”. Eu me aproximei e pedi para me levar até Tavares.
Albert Henchemaier, um jovem técnico em mecânica que trabalha para o irmão em uma empresa de dragagem no canal de Rio Grande (RS) mas mora com a família em Imbituba (SC), destino da sua viagem.
A estrada, sempre reta e cercada de banhados com a chuva que insistia em cair a viagem toda. No caminho um grupo de tradicionalistas seguiam para um encontro da semana Farroupilha, pedi então ao Albert, que em vez de me deixar em Tavares, me deixasse em Torres, dali seguiria pela SC 450 para Praia Grande. Ele disse que eu poderia escolher onde gostaria de ficar.
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No caminho, ele disse que já havia almoçado mas pergunta se eu gostaria de almoçar. Eu, com meu estômago roncando, disse para não se incomodar, imaginava que ele estava com pressa de chegar em casa e ver a família e que não queria atrasar sua viagem. Ele sorriu e ofereceu parar em um ponto na estrada onde servem o melhor pastel da região.
De fato, o pastel com farto recheio de carne, queijo e ovos, serviu como um almoço. Na hora de ir embora, Albert insistiu e pagou a conta. Disse que era um prazer viajar comigo e que ficaria feliz em bancar.
Próximo a Torres, o celular de Albert tocou. Um pequeno problema com uma das dragas fez com ele passasse do ponto onde iria me deixar. Seis quilômetros a frente paramos em um outro posto.
Visivelmente chateado por ter me deixado fora do ponto, ele me adicionou em uma rede social e me desejou sorte, antes de seguir para sua família em Imbituba.
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A noite caiu e logo minha carona chegou, o agitado e simpático Guilherme, dentro de um Vectra prata ao som de música sertaneja.
Depois de 20 minutos, ele me deixou em frente a uma lanchonete, na pequena cidade de Praia Grande e ordenou ao funcionário para me servir o lanche que eu escolhesse e colocasse na sua conta, sem que eu dissesse nada sobre comida ou fome. “Se você tá pegando carona, é porque tá sem dinheiro para comer. Já fui caminhoneiro e sei como é essa vida”, disse ele, arrancado seu carro cidade a dentro.
Alimentado, o desafio agora era procurar um canto pra dormir.