Vendendo jornal velho
18/09/15 08:02No meu quarto dia de caminhada, consegui um camping em uma zona rural, a 6 quilômetros de Praia Grande (SC). Montei minha barraca debaixo de uma chuva torrencial, dormi com o barulho da chuva batendo na lona e acordei na madrugada, com ela toda encharcada por dentro. Em meus dias de caminhada, esta noite foi a mais difícil. Tive que secar com uma toalha toda barraca.
Na manhã seguinte, meu projeto era ir aos cânions aqui do sul, porém, com a chuva estavam todos fechados e a previsão é a de que se mantenham assim até domingo. O negócio então foi eu ficar por ali, já que o local tem banheiro com água quente, fogão e uma velha geladeira. Fui para a Praia Grande de carona em um ônibus escolar, comprar mantimentos e tentar algum trabalho para me manter até domingo (20).
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A cidade parecia estar em pleno feriado com as ruas vazias. Tentei emprego nos postos de gasolina, mercados e até no centro de apoio ao trabalhador, onde a moça me ofereceu uma vaga de cuidador de idoso. Eu recusei, já que meu trabalho era para ser temporário, de no máximo três dias, até que a chuva passe e eu consiga chegar aos cânions.
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Entre uma conversa e outra, descobri que uma loja de material de construção sempre pega temporário para entrega de materiais, mas o dono não estava.
Percebi então o tamanho da crise no Brasil, andando por aquela pequena cidade de lojas vazias. Em uma uma imobiliária, tinha um cartaz na porta onde se lia: “estou perto, ligue”, com o número escrito, acredito que o proprietário cansou de esperar por algum cliente que queira alugar ou comprar imoveis. Em outro cartaz, desta vez em uma loja de brinquedos e presentes, estavam vendendo até jornal velho.
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Percorrendo a cidade deserta, parecia cena de filme de terror, onde somente eu estava nas ruas.
No final do dia, sem conseguir emprego, fui fazer as compras, não esquecendo de uma lona plástica para cobrir minha barraca, já que a previsão era de mais chuvas e granizo à noite e eu não estava disposto a acordar na madrugada para enxugar a barraca . Gastei mais R$ 37,00 no supermercado e R$ 6,00 com a lona plástica. Agora me restam R$ 93,50.
Às 17h, peguei carona no mesmo ônibus escolar de volta a zona rural de Praia Grande.