A doce vida ao pé do malacara
20/09/15 08:45A chuva deu sinais de alívio, na zona rural de Praia Grande, (SC), mas o tempo continua encoberto no meu terceiro dia no camping; o sexto, desde o início da viagem.
Uma densa neblina cobria tudo a minha frente. Saí da barraca, com o Guará farejando meus pés e balançando o rabo, como quem pede comida. Preparei meu o café, água quente com pó de cappuccino, e, para o Guará, pão com um pouco de atum.
Com mais um integrante na família, resolvi caminhar por quatro quilômetros na estrada de terra até uma pequena mercearia para comprar mais macarrão instantâneo e atum para meu amigo. Gastei mais R$ 14,00 rebaixando minhas economias para R$ 79,50, deixando minha situação financeira perigosamente no vermelho.
Logo na primeira curva, encontro um carro de boi carregado de bananas. Resolvi levantar o dedo polegar e tentar uma a carona. O senhor, que conduzia o veículo de tração animal, balançou a cabeça com sinal de positivo, e nem precisou parar: de tão lento que trafegava pulei e já logo sentei no pedaço de madeira que separava a carga do traseiro dos bois.
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Osvaldir dos Santos, 50, faz carretos levando bananas de uma plantação próxima para a cidade de Praia Grande (SC), ganha R$ 50,00 por carreto e consegue fazer umas três viagens por dia. “Faria mais, mas os bois não aguentam”, diz ele enquanto balança o arreio, tocando os bois para acelerar.
A vida na zona rural de Praia Grande segue como o carro de boi de Osvaldir, lentamente, sem pressa de chegar a lugar algum.
Assim como a dona Enir Schimitt, 55, que tem um pequeno bar próximo a entrada do cânion Malacara, e tem, como quintal, a vista dos cânions. Vive ali desde de seu nascimento, disse que já saiu algumas vezes da região, mas foi só a Porto Alegre e voltou.
“Prefiro ver o mundo de longe, pela TV”, exclama apoiada no beiral do balcão de seu bar, vazio por conta das chuvas que caem.
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Dona Enir é vizinha do camping onde montei minha barraca, e por duas vezes me ofereceu açúcar para adoçar meu café.
O tempo à tarde abriu um pouco, o suficiente para conseguir ver a entrada dos cânions. Consegui que um casal de guias, Dani e Luca, me levasse até o rio que desce da cachoeira do cânion Malacara. Foi o mais próximo que consegui chegar, já que chovia no alto e era perigoso o rio encher de repente.
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Sem chance de o tempo melhorar e frustrado por não entrar na trilha do Malacara, a decisão é subir para Cambará do Sul (RS) na segunda feira e tentar uma vista de cima.
No domingo, o ônibus escolar não passa e a cidade fica cerca de oito quilômetros de distância, mais de uma hora de caminhada. É arriscado eu seguir com uma mochila de 15 kg nas costas a pé, com a chuva ameaçando a cada hora… O jeito é ficar e curtir o tempo ao lado de Guará, que me observa atentamente sentado ao meu lado, enquanto escrevo este texto..