Na zona de conflito
27/09/15 06:26Na cidade de Lapa, interior do Paraná, 900 homens que compõem as tropas governistas, conhecidos como “pica-paus” (por usarem uniforme azul, vermelho e branco, as cores do pássaro), são cercados por mais de 3.000 homens das tropas federalistas, conhecidos por “maragatos” (por muitos deles serem descendentes de imigrantes da cidade Maragateria, na Espanha).
Eles resistiram por 26 dias, levando à morte seu general, Antônio Ernesto Gosmes Carneiro, conhecido como General Carneiro.
Esta batalha, conhecida como “Cerco da Lapa”, ocorreu após a proclamação da República e onde se iniciou a Revolução Federalista (que foi de 1893 a 1895), uma das mais sangrentas batalhas no Brasil.
Hoje, Lapa é uma pacata cidade do interior do Paraná, onde vivem Airton Scharnoveber, 57, com sua mulher, Hilda Scharnoveber. Foram eles que me contaram essa história durante uma carona, em sua velha picape, entre Campo do Tenente e Lapa.
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Airton é um trabalhador rural que não costuma dar carona, mas olhou pra mim e viu que eu parecia ser gente boa. Ele havia ido buscar sua filha Iza Scharnoveber, 26, que trabalha em Campo do Tenente.
Ele conta com orgulho a história da batalha na região, como se a tivesse vivido. Sabe os detalhes e nomes de todos os personagens, inclusive do Gal. Carneiro. Não satisfeito, fez um “tour” comigo pela cidade para mostrar os pontos turísticos.
”Meu filho, você precisa conhecer esta cidade! É muito linda! Povo acolhedor”, disse ele, pouco antes de eu desembarcar no centro.
Dei uma volta, para ver de perto essa batalha. Visitei a casa onde o Gal. Carneiro morreu e fui até o centro de informações turísticas para buscar mais detalhes.
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Já passava do meio dia e, como de costume, não almocei. Devo ter perdido mais de 3 quilos desde o começo da viagem, dia 14 de setembro. Tive de apertar um buraco a mais no cinto da calça.
Emagreci o proporcional ao meu saldo financeiro e me preocupo em ficar sem dinheiro e ter que pedir por comida. Preciso arrumar logo um trabalho.
Resolvi, então, pegar estrada e consegui chegar à rodovia estadual PR-427, até um posto rodoviário, onde me orientei com os policiais para saber se estava no caminho certo para seguir até a cidade de Irati (PR).
Os policiais foram camaradas e pararam um carro, onde nele estava Marlon, um estudante de Química em Ponta Grossa (também no Paraná), que corria muito e que me deixou no pedágio da BR-277, ligando a cidade de Irati.
Consegui chegar a Irati, onde encontrei um camping sem energia elétrica, mas com banho.
No sábado (26), tentei arrumar algum trabalho como ‘Chapa”, já que nesta cidade tem muitos caminhões de batata, mas descobri que não tinha expediente de caminhoneiros, o que me frustrou a possibilidade de algum bico.
O tempo ameaçava desabar com um temporal no horizonte. O negócio foi seguir para a cidade de Prudentópolis (PR) e lá tentar um trabalho urgente.
Consegui, então, uma carona com Hélio Souza, 61, um velho caminhoneiro que dirigia um velho Ford F-350 baú. Ele levava utensílios para um buffet para uma festa de casamento.
Pensei em arrumar um trabalho como assistente de fotógrafo neste casamento, mas Hélio disse que eu teria de conversar com o fotógrafo da festa. Disse que não podia garantir nada e perguntou se eu entendia de fotografia.