Grão Mogol, a cidade dos diamantes negros
14/10/15 05:19Depois de ser esquecido pelo motorista de um ônibus coletivo –única forma de sair da pequena Guacuí (MG)– no dia 12 de outubro, a quase um mês na estrada, tive de andar cerca de cinco quilômetros até alcançar a BR-365.
Conforme eu caminho para o Norte, o cenário vai mudando, de mata Atlântica para a caatinga do cerrado.
Ao chegar em um posto, à beira da BR, logo consigo uma carona com o evangélico Marcio Adriano, 38, que estava com seu enteado Leandro, 12.
Ao me ver reclamar do motorista que não passou na vila, ele responde: “Não reclame, meu amigo, há males que vem para o bem”.
Juro que estava tentando entender qual o bem eu conseguiria, depois de andar cinco quilômetros no sol forte do norte de Minas.
Mas logo fui pego de surpresa. Ao explicar que estava viajando e tentando conhecer lugares no Brasil onde poucos conhecem, Adriano dá um sorriso e pergunta: “Você conhece Grão Mogol?
Claro que não, respondi, mas passei a conhecer depois de ele sair mais de 50 quilômetros da sua rota original, somente para me deixar na entrada da pequena e rica cidade de Grão Mogol (MG).
Cheguei logo no fim da tarde, e no dia seguinte bem cedo saí para saber mais.
Grão Mogol fica encravada na Serra do Espinhaço, Norte de Minas Gerais. Segundo os moradores mais antigos, o município foi construído pelas mãos de escravos, trazidos pelos barões do diamantes e garimpeiros apenas para que pudessem levantar toda a cidade.
Do pavimento das ruas, passando pela imponente igreja Matriz de Santo Antônio, toda feita em pedra, até a última telha de cada casa, foi feita com o suor dos negros escravizados no século 17. A cidade foi uma das mais importantes no garimpo de diamantes do Brasil.
O nome “Grão Mogol” é um mistério a parte, existem várias teses. A mais popular é que grande parte dos diamantes extraídos aqui nesta cidade eram contrabandeados para o imperador da Índia Grão Mogol, que na tradução do idioma hindi significa “grande valoroso”.
A pequena cidade não é rica somente em diamantes. Cada morador que se encontra tem uma história diferente para contar.
O comerciante Élcio Paulino, 64, relata que a rua direita, a via principal onde os escravos ergueram toda cidade, tem este nome por estar à direita da igreja matriz, também por apontar para o norte da cidade, e ainda me dá mais dois outros motivos pelo nome.
Geraldo Froes, 79, responsável pelo viveiro de mudas, se aprofunda ainda mais nas explicações e me dá uma aula sobre os barões do diamante, o tal imperador indiano e todo o mistério que cerca o nome desta rica cidade.
Mas a maior riqueza de Grão Mogol não está no brilho dos diamantes, expostos em vitrines mundo afora. Está no suor dos negros escravizados, que levantaram cada pedra, para que hoje ela mesma possa contar sua história.