Uma noite de delírios na Bahia
16/10/15 07:28
Logo pela manhã do dia 14 de outubro, ainda em Grão Mogol (MG), exatamente há um mês do início da minha viagem, resolvi seguir direto para a cidade de Canindé do São Francisco (SE).
O banho gelado no dia anterior, no pequeno córrego que passa próximo à cidade, não foi uma boa ideia. Acordei com a garganta doendo, dores no corpo e uma febre baixa.
Segui em um coletivo até a BR-251, no pequeno vilarejo conhecido como Barreirão, onde existe um radar eletrônico, ponto ideal para caronas.
Fiquei por ali até que um Opala Comodoro, destes antigos, parou para pegar informação. O motorista, usando um óculos de sol tamanho gigante e muito parecido com o cantor de pagode Bezerra da Silva, pergunta se aquela rodovia vai até Salinas (MG). Eu então digo que sim e aproveito para pedir uma carona.
Na verdade, Ariovaldo Jose Ferreira, 65, ia para Cândido Sales (BA) levar uma peça para socorrer um de seus 3 caminhões, que estava quebrado na beira da pista. Eu, claro, fui direto com ele para o socorro.
O caminhoneiro, Josinaldo Gonçalves, 38, que carregava tubos de PVC para Aracaju, já estava na pista esperando. O conserto levou cerca de 20 minutos.
Enquanto isso, minha temperatura subia conforme o sol ardia. As dores no corpo aumentavam e, sem muito onde ter que ficar, tive de aguardar na beira da pista, debaixo do sol forte das 11h.
Finalizado o reparo, acertei com Josinaldo de ele me levar direto para Feira de Santana (BA), mas ele logo avisou, “Vou direto, a noite toda, para compensar o atraso. Tudo bem pra você?”
Eu, seguro de que aquilo não seria um problema, topei.
Quem pega caronas na estrada tem como obrigação distrair os motoristas com conversas de todo tipo. Funciona como um passa tempo. Fala-se de tudo: futebol, política, mulheres. Porém, eu com a dor na garganta, dores pelo corpo e febre que parecia aumentar, estava sem a menor vontade de conversar.
Foi quando o caminhão quebrou novamente e ele resolveu parar próximo de uma borracharia, ainda na BR-251.
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Fiquei imaginando que naquele dia, o melhor a fazer, era não ter feito nada e ter ficado em Grão Mogol.
Menos de 20 minutos depois já estávamos de volta à estrada, já com o sol baixando no horizonte e minha febre subindo na testa.
Comecei a não mais conseguir prestar atenção no que Josinaldo falava. Eu apenas balançava a cabeça concordando com tudo que ele dizia. Espero que ele não tenha dito algo comprometedor.
Foi então que eu deitei a cabeça no banco, fechei os olhos e comecei a ter delírios. Os faróis dos caminhões que vinham na mão contrária pareciam que se chocariam contra nós. Eu gemia e tinha calafrios.
Apaguei e só acordei com os raios do sol batendo em meu rosto, na chegada à Feria de Santana.
“Rapaz, você delirou a noite toda. Precisa cuidar disso”, disse Josinaldo.
Ele, então, estacionou seu caminhão no posto, próximo à entrada da cidade. Eu me despedi de Josinaldo enquanto ele preparava a cabine para descansar. E eu procurei uma farmácia mais próxima para curar meus delírios.