Maluco de BRMaluco de BR http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br Andanças pelas estradas do país Mon, 19 Oct 2015 20:14:13 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Obrigado a todos http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/19/obrigado-a-todos/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/19/obrigado-a-todos/#respond Mon, 19 Oct 2015 09:42:24 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=333 Continue lendo →]]> Mapa do percurso; clique para abrir

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Hoje eu encerro minha participação neste blog. Um forte resfriado e uma dor aguda no ombro, que eu vinha sentindo desde a chegada ao Estado de São Paulo, aumentou, me impedindo de subir a mochila nos ombros e também de manter na estrada.

Foram 36 dias, desde a saída do Chui (RS)  até a cidade de Piranhas (AL),  e  percorrer mais de 5.000 Km por este país. Meu limite chegou.

E, para finalizar, não poderia deixar de explicar o motivo deste nome.

“Maluco de BR” são centenas de artesões do Brasil inteiro, que produzem sua arte para vender em feiras livres espalhadas pelas principais cidades do país.

A malucada, como são carinhosamente conhecidos, é muitas vezes perseguida pelo poder público e discriminada pela sociedade. São pessoas de paz e que querem apenas viver no estilo de vida deles, vendendo sua arte, e que muitas vezes não conseguem reconhecimento.

O que eu fiz nada tem a ver com o estilo de vida maluco de estrada, a não ser pelo sacrifício que senti na pele de andar por cidades de carona –muitas vezes, necessitando de ajuda de brasileiros que conheci pelo caminho.

Por outro lado, essa experiência me mostrou um país diferente do que eu vivi há 20 anos, quando fiz essa mesma viagem. Fiquei com ainda mais orgulho deste Brasil, da riqueza de nossas montanhas, dos nossos cânions, das nossas cidades históricas escondidas, de nossos rios e, principalmente, de nosso povo, que mesmo enfrentando seus problemas pessoais, mudaram seus destinos mesmo que por um instante, para me ajudar.

Enfrentar esse desafio foi também um aprendizado e, como todo aprendizado, ele se mostra difícil no início. Assim foram as primeiras caronas lá no Sul, que demoraram para acontecer, mas depois fui pegando o jeito e descobrindo novas formas de seguir em frente, que tornaram-se mais fáceis, me fazendo chegar até aqui.

A necessidade nos mostra caminhos que muitas vezes não sabemos que existem; ela nos mostra uma força, que muitas vezes não sabemos que temos.

Espero ter conseguido mostrar a todos vocês a magnífica experiência que é viajar.

Eu agora, vou tomar um banho nas águas doces do rio São Francisco, desmontar meu acampamento e retornar para casa.

Obrigado a todos.

Meu último dia na cidade de Piranhas (AL) (Foto: Joel Silva / Folhapress)

Meu último dia de viagem, na cidade de Piranhas (AL) (Foto: Joel Silva / Folhapress)

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BLOG MALUCO DE BR

Meu primeiro dia de viagem, na cidade de Chuí (RS), no dia 14 de outubro (Foto: Joel Silva / Folhapress)

Vista do meu último acampamento, as margens do Rio São Francisco na cidade de Piranhas (AL). (Foto Joel Silva / Folhapress)

Vista do meu último acampamento, às margens do rio São Francisco na cidade de Piranhas (AL) (Foto: Joel Silva / Folhapress)

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Morte e vida Virgulino http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/18/morte-e-vida-virgulino/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/18/morte-e-vida-virgulino/#respond Sun, 18 Oct 2015 09:35:01 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=316 Continue lendo →]]>  

Uma moto, dois carros e uma caminhonete me levaram de Feira de Santana (BA) até a cidade de Piranhas (AL). Na última carona, fui alertado pelo motorista de que a cidade foi palco de uma das emboscadas mais conhecidas do Brasil, causando a morte do mais famoso cangaceiro brasileiro: Vigulino Ferreira da Silva, o Lampião.

Fiquei curioso e saí da rota inicial, que era ir para Canindé do São Francisco (SE), na região de Cânions do São Francisco, para ir a Piranhas.

Cheguei no fim de tarde na cidade, acampando nas margens do velho Chico.

Logo na entrada, vê-se que ali é berço do cangaço: a delegacia leva o nome do Tenente João Bezerra, um dos oficiais que ajudaram na emboscada ao cangaceiro e seu bando. Logo mais abaixo, a pousada Maria Bonita disputa turistas com a pousada Lampião.

O primeiro morador que encontro bem na praça central é justamente Lampião. Eu brinco com ele, dizendo, “mas rapaz, você não está morto?”. Ele ,em sotaque bem nordestino, responde: “Aqui em Piranhas, Lampião nunca morre”.

Na verdade, era Fábio Moura, 33, ator e único autorizado pelo sindicato dos artistas a se vestir exatamente com a indumentária de Lampião. Ele é um guia responsável por levar turistas na trilha do cangaço –o local da emboscada, onde Lampião e seu bando foram mortos e decapitados.

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O ator Fábio Moura, 33 caminha pelo centro histórico de Piranhas, vestido de Lampião. ( Foto Joel Silva / Folhapress)

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Ao andar pelo centro histórico, observo por uma janela de uma das casas uma mulher cortando o cabelo de um homem.

Resolvo encostar e puxar conversa. Eulina Bezerra dos Santos, 37, cortava o cabelo de seu marido, José Cordeiro, 88. Nas paredes da casa, retratos de Jesus e de Padre Cícero.

Cordeiro, que não enxerga muito e quase não ouve, conta que no dia da morte de Lampião foi proibido por seu pai de sair de casa, já que as cabeças do cangaceiros estavam expostas na escadaria (onde hoje funciona a prefeitura da cidade).

Ao ir embora, depois de longas histórias sobre o cangaço, Cordeiro me dá um conselho: “Meu filho, você conhece casca de angico?” Eu respondo que não, então ele me recomenda tomar uma cachaça com angico na venda ao lado.

Eu olho para a mulher, que está sem graça, e pergunto se esta bebida é um fortificante. Ela, sorrindo, diz que sim.

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Eulina Bezerra dos Santos, 37, corta o cabelo de seu marido, José Cordeiro, 88 em sua casa, no centro histórico de Piranhas. ( Foto Joel silva / Folhapress)

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Resolvi refazer a rota da volante (nome dado a um grupo militar) que cercou os cangaceiros e peguei uma carona no catamarã São Francisco, junto com um grupo de cerca de 11 turistas. Descemos por 20 minutos de barco rio abaixo, e depois mais 30 minutos andando no meio da caatinga até chegar ao local da batalha, conhecida como “Grota de Angicos”, do lado de Sergipe.

Na chegada, um silêncio toma conta dos turistas e logo a guia que nos acompanha,  começa a narrar a batalha.

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Turistas observam cruz na Grota de Angicos”, do lado de Sergipe. Local onde o bando de Lampião foi morto. ( Foto Joel Silva / Folhapress)

Era 27 de julho de 1938, a volante do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva chegou às 5h da manhã durante uma madrugada chuvosa, ocultado assim qualquer ruído dos soldados que abriram fogo contra os cangaceiros. Eles, que ainda dormiam, não puderam reagir no meio da caatinga

Mesmo após 77 anos, o lugar ainda tem marcas da batalha: buracos de bala ainda estão a mostra nas rochas e duas cruzes marcam o local exato da morte de Lampião e de Maria Bonita.

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Buracos de bala em rocha, na Grota de Angicos”, do lado de Sergipe. Onde o bando de lampião foi morto. ( Foto Joel Silva / Folhapresss)

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Placa com os nomes de Lampião, Maria Bonita e todos que morreram na Grota de Angicos”, do lado de Sergipe. ( Foto Joel Silva / Folhapress)

Virgulino Ferreira da Silva nasceu em Serra Talhada (PE),  está enterrado em Aracaju (SE), mas vive em Piranhas (AL).

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Uma noite de delírios na Bahia http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/16/uma-noite-de-delirios-na-bahia/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/16/uma-noite-de-delirios-na-bahia/#respond Fri, 16 Oct 2015 10:28:32 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=305 Continue lendo →]]>

 Logo pela manhã do dia 14 de outubro, ainda em Grão Mogol (MG), exatamente há um mês do início da minha viagem, resolvi seguir direto para a cidade de Canindé do São Francisco (SE).

O banho gelado no dia anterior, no pequeno córrego que passa próximo à cidade, não foi uma boa ideia. Acordei com a garganta doendo, dores no corpo e uma febre baixa.

Segui em um coletivo até a BR-251, no pequeno vilarejo conhecido como Barreirão, onde existe um radar eletrônico, ponto ideal para caronas.

Fiquei por ali até que um Opala Comodoro, destes antigos, parou para pegar informação. O motorista, usando um óculos de sol tamanho gigante e muito parecido com o cantor de pagode Bezerra da Silva, pergunta se aquela rodovia vai até Salinas (MG). Eu então digo que sim e aproveito para pedir uma carona.

Na verdade, Ariovaldo Jose Ferreira, 65, ia para Cândido Sales (BA) levar uma peça para socorrer um de seus 3 caminhões, que estava quebrado na beira da pista. Eu, claro, fui direto com ele para o socorro.

O caminhoneiro, Josinaldo Gonçalves, 38, que carregava tubos de PVC para Aracaju, já estava na pista esperando. O conserto levou cerca de 20 minutos.

Enquanto isso, minha temperatura subia conforme o sol ardia. As dores no corpo aumentavam e, sem muito onde ter que ficar, tive de aguardar na beira da pista, debaixo do sol forte das 11h.

Finalizado o reparo, acertei com Josinaldo de ele me levar direto para Feira de Santana (BA), mas ele logo avisou, “Vou direto, a noite toda, para compensar o atraso. Tudo bem pra você?”

Eu, seguro de que aquilo não seria um problema, topei.

Quem pega caronas na estrada tem como obrigação distrair os motoristas com conversas de todo tipo. Funciona como um passa tempo. Fala-se de tudo: futebol, política, mulheres. Porém, eu com a dor na garganta, dores pelo corpo e febre que parecia aumentar, estava sem a menor vontade de conversar.

Foi quando o caminhão quebrou novamente e ele resolveu parar próximo de uma borracharia, ainda na BR-251. 

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Borracharia na BR  onde paramos para consertar o caminhão, na Bahia.(BA) ( Foto Joel Silva /Folhapress)

Borracharia na BR 251, entre Cândido Sales e Vitória da Conquista, (BA), onde paramos para consertar o caminhão, na Bahia.(BA) ( Foto Joel Silva /Folhapress)

Fiquei imaginando que naquele dia, o melhor a fazer,  era não  ter feito nada e ter ficado em Grão Mogol.

Menos de 20 minutos depois já estávamos de volta à estrada, já com o sol baixando no horizonte e minha febre subindo na testa. 

Comecei a não mais conseguir prestar atenção no que Josinaldo falava. Eu apenas balançava a cabeça concordando com tudo que ele dizia. Espero que ele não tenha dito algo comprometedor.

Foi então que eu deitei a cabeça no banco, fechei os olhos e comecei a ter delírios. Os faróis dos caminhões que vinham na mão contrária pareciam que se chocariam contra nós. Eu gemia e tinha calafrios.

Apaguei e só acordei com os raios do sol batendo em meu rosto, na chegada à Feria de Santana. 

“Rapaz, você delirou a noite toda. Precisa cuidar disso”, disse Josinaldo.

Ele, então, estacionou seu caminhão no posto, próximo à entrada da cidade. Eu me despedi de Josinaldo enquanto ele preparava a cabine para descansar. E eu procurei uma farmácia mais próxima para curar meus delírios.

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Grão Mogol, a cidade dos diamantes negros http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/14/grao-mogol-a-cidade-dos-diamantes-negros/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/14/grao-mogol-a-cidade-dos-diamantes-negros/#respond Wed, 14 Oct 2015 08:19:14 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=274 Continue lendo →]]> Depois de ser esquecido pelo motorista de um ônibus coletivo –única forma de sair da pequena Guacuí (MG)– no dia 12 de outubro, a quase um mês na estrada, tive de andar cerca de cinco quilômetros até alcançar a BR-365.

Conforme eu caminho para o Norte, o cenário vai mudando, de mata Atlântica para a caatinga do cerrado.

Mulher anda de v=bicicleta com seu filho, na BR 365, ao fundo  vegetação de Caatinga. ( Foto Joel Silva / Folhapress)

Mulher anda de bicicleta com sua filha, na BR 365, ao fundo vegetação de Caatinga ( Foto Joel Silva / Folhapress)

Ao chegar em um posto, à beira da BR, logo consigo uma carona com o evangélico Marcio Adriano, 38, que estava com seu enteado Leandro, 12.

Ao me ver reclamar do motorista que não passou na vila, ele responde: “Não reclame, meu amigo, há males que vem para o bem”.

Márcio Adriano Silva, 38 com seu enteado, Leandro, 12 em seu carro, na BR #¨% próximo a Grão Mogol, MG. (Foto Joel Silva / Folhapress)

Márcio Adriano Silva, 38 com seu enteado, Leandro, 12 em seu carro, na BR-365, próximo a Grão Mogol, MG (Foto Joel Silva / Folhapress)

Juro que estava tentando entender qual o bem eu conseguiria, depois de andar cinco quilômetros no sol forte do norte de Minas.

Mas logo fui pego de surpresa. Ao explicar que estava viajando e tentando conhecer lugares no Brasil onde poucos conhecem, Adriano dá um sorriso e pergunta: “Você conhece Grão Mogol?

Claro que não, respondi, mas passei a conhecer depois de ele sair mais de 50 quilômetros da sua rota original, somente para me deixar na entrada da pequena e rica cidade de Grão Mogol (MG).

Cheguei logo no fim da tarde, e no dia seguinte bem cedo saí para saber mais.

Grão Mogol fica encravada na Serra do Espinhaço, Norte de Minas Gerais. Segundo os moradores mais antigos, o município foi construído pelas mãos de escravos, trazidos pelos barões do diamantes e garimpeiros apenas para que pudessem levantar toda a cidade.

 

Mulher caminha    no centro da cidade de Grão Mogol, (MG), que foi construída  por escravos.    . (Foto Joel Silva / Folhapress. )

Mulher caminha no centro da cidade de Grão Mogol, (MG), que foi construída por escravos (Foto Joel Silva / Folhapress)

 

  Igreja de santo Antonio, no  centro da cidade de Grão Mogol,  (MG)que foi construída por escravos.    .( Foto Joel Silva / Folhapress. )

Igreja de santo Antonio, no centro da cidade de Grão Mogol, (MG)que foi construída por escravos ( Foto Joel Silva / Folhapress)

 

15,  Igreja de santo Antonio, no  centro da cidade  de Grão, (MG) Mogol, que foi construída  por escravos.    . (Foto Joel Silva / Folhapress. )

15, Igreja de santo Antonio, no centro da cidade de Grão, (MG) Mogol, que foi construída por escravos (Foto Joel Silva / Folhapress)

 

Do pavimento das ruas, passando pela imponente igreja Matriz de Santo Antônio, toda feita em pedra, até a última telha de cada casa, foi feita com o suor dos negros escravizados no século 17. A cidade foi uma das mais importantes no garimpo de diamantes do Brasil.

O nome “Grão Mogol” é um mistério a parte, existem várias teses. A mais popular é que grande parte dos diamantes extraídos aqui nesta cidade eram contrabandeados para o imperador da Índia Grão Mogol, que na tradução do idioma hindi significa “grande valoroso”.

 Rua direita, no centro da cidade de Grão Mogol, (MG)  que foi construída  por escravos.    .( Foto Joel Silva / Folhapress. )

Rua direita, no centro da cidade de Grão Mogol, (MG) que foi construída por escravos ( Foto Joel Silva / Folhapress)

 

 Centro da cidade  de Grão Mogol,  (MG)que foi construída  por escravos.    .( Foto Joel Silva / Folhapress. )

Centro da cidade de Grão Mogol, (MG)que foi construída por escravos ( Foto Joel Silva / Folhapress)

 

Detalhe de casa em pedra, no , centro da cidade  de Grão Mogol, (MG) que foi construída  por escravos.    . (Foto Joel Silva / Folhapress. )

Detalhe de casa em pedra, no , centro da cidade de Grão Mogol, (MG) que foi construída por escravos (Foto Joel Silva / Folhapress)

A pequena cidade não é rica somente em diamantes. Cada morador que se encontra tem uma história diferente para contar.

O comerciante Élcio Paulino, 64, relata que a rua direita, a via principal onde os escravos ergueram toda cidade, tem este nome por estar à direita da igreja matriz, também por apontar para o norte da cidade, e ainda me dá mais dois outros motivos pelo nome.

Geraldo Froes, 79, responsável pelo viveiro de mudas, se aprofunda ainda mais nas explicações e me dá uma aula sobre os barões do diamante, o tal imperador indiano e todo o mistério que cerca o nome desta rica cidade.

Mas a maior riqueza de Grão Mogol não está no brilho dos diamantes, expostos em vitrines mundo afora. Está no suor dos negros escravizados, que levantaram cada pedra, para que hoje ela mesma possa contar sua história.

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A natureza no altar de Deus http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/12/a-natureza-no-altar-de-deus/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/12/a-natureza-no-altar-de-deus/#respond Mon, 12 Oct 2015 09:24:38 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=267 Continue lendo →]]> Depois de passar a noite às margens  do rio São Francisco quase seco, inicio meu 28º dia de viagem pelo Brasil num ensolarado domingo, véspera do Dia das Crianças e de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

Ao chegar na BR-365, sentido norte, um carro puxando um barco de pesca pequeno para e me oferece carona. Diz que estava indo para Montes Claros. Achei perfeito, era mesmo meu destino.

No caminho, João Pedro,  65, empresário do ramo de adubo e pescador nas horas vagas, me pergunta o que faço andando nas estradas. Digo que tenho um blog e que procuro lugares exóticos para conhecer. Ele, então, me indica um bem no nosso caminho, no sertão mineiro, onde ficam as ruínas de uma igreja Jesuíta e que quase ninguém conhece.

Não tive dúvidas. Desembarquei no meio da estrada, bem em frente ao vilarejo Barra do Guaicuí (MG), com um sol de meio dia na cabeça.

Ao entrar na vila, fogos de artificio explodiam no céu, mas não eram por conta da minha chegada. A população comemorava o dia da padroeira do Brasil,  Nossa Senhora Aparecida.

Andando pela pequena vila foi fácil chegar às ruínas da igreja Bom Jesus de Matozinhos, bem perto do encontro das águas do rio São Francisco com rio das Velhas.

Construída pelos escravos, no século 17,  entre os anos de 1650 e 1679, nunca foi finalizada,  Porém,  a natureza de Deus fez o acabamento.

Há mais de 30 anos,  pássaros depositaram uma semente de Gameleira,  uma árvore robusta,   na parede do altar.

 

  igreja de  Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí,  MG, onde uma  arvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja.  ( Foto Joel Silva / Folhapress.)

Moradores visitam a igreja de Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí, MG, onde uma árvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja ( Foto Joel Silva / Folhapress)

Com o tempo, a árvore foi crescendo e fortificando mais ainda,  com suas raízes descendo sob  as paredes feitas de pedra e cal,  se mantendo até hoje e deixando uma imagem exótica,  que mais se  parece um templo perdido em algum país da Ásia.

Deus escreve certo, por raízes tortas.

Vista externa da    igreja de  Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí,  MG, onde uma  arvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja.  ( Foto Joel Silva / Folhapress.)

Vista externa da igreja de Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí, MG, onde uma árvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja ( Foto Joel Silva / Folhapress)

  Vista interna da  igreja de  Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí,  MG, onde uma  arvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja.  ( Foto Joel Silva / Folhapress.)

Vista interna da igreja de Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí, MG, onde uma árvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja ( Foto Joel Silva / Folhapress)

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  Vista interna da  igreja de  Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí,  MG, onde uma  arvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja.  ( Foto Joel Silva / Folhapress.)

Vista interna da igreja de Bom Jesus do Matozinho , no distrito de Barra do Guaicuí, MG, onde uma árvore Gameleira nasceu na parede do altar da igreja ( Foto Joel Silva / Folhapress)

 

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Visitando o Velho Chico na UTI http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/11/visitando-o-velho-chico-na-uti/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/11/visitando-o-velho-chico-na-uti/#respond Sun, 11 Oct 2015 08:59:56 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=260 Continue lendo →]]> Ao desembarcar próximo Pirapora (MG), na noite de 8 de outubro, recebo uma mensagem da redação da Folha informando que eles estavam enviando uma verba para me ajudar na alimentação e possivelmente em alguma pensão, caso não encontre lugar para acampar.

Agora não preciso mais procurar emprego para sobreviver. É só seguir com as caronas.

Consigo uma com um vendedor de roupas, até o centro da cidade. Ao saber que estava indo para Pirapora, ele logo diz: “você vai visitar o Chico na UTI?”

Ele estava se referindo ao rio São Francisco, que, com a seca, agoniza em seu leito.

E não era exagero de morador local. No dia seguinte, ao conseguir um lugar para acampar, fui direto para a ponte velha de ferro, que atravessa todo o rio.

Com o nível baixo, é possível ver as pedras que normalmente ficam submersas e o mato toma conta de onde antes apenas água escorria.

 

Pescador  próximo  a velha ponte que passa sobre  o  rio São Francisco, em Pirapora. ( Foto Joel Silva / Folhapress.)

Pescador próximo a velha ponte que passa sobre o rio São Francisco, em Pirapora ( Foto Joel Silva / Folhapress)

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Pedestres caminham sobre a velha ponte que passa sobre  o  rio São  Francisco, em Pirapora (MG). (Foto Joel Silva / Folhapress. )

Pedestres caminham sobre a velha ponte que passa sobre o rio São Francisco, em Pirapora (MG) (Foto Joel Silva / Folhapress)

O velho barco a vapor, Benjamim Guimarães, que em dias de cheia navegava com turistas pelo rio, hoje tenta sobreviver ancorado, com uma apresentação da orquestra sinfônica jovem , tocando    “sinfonia do Velho Chico”.

Era linda, porém, ao ver a apresentação no sábado à noite, parecia uma música de Réquiem, música normalmente feita para os mortos, com o velho Chico ao fundo, silencioso. Vejo algumas mulheres com lágrimas nos olhos.

Tive a impressão de que tocavam no leito de morte de um dos rios mais importantes do Brasil, que nasce na minha região, a Serra da Canastra (MG), e sobe o Brasil para desaguar na cidade de Piaçabuçu (AL).

 

  Orquestra sinfônica jovem de Pirapora , (MG), durante apresentação no barco a vapor,  Benjamim Guimarães, nas margens do Rio São  Francisco. (Foto Joel Silva / Folhapress. )

Orquestra sinfônica jovem de Pirapora , (MG), durante apresentação no barco a vapor, Benjamim Guimarães, nas margens do Rio São Francisco (Foto Joel Silva / Folhapress)

O pescador Gilberto Lima, 52, que pesca no São Francisco desde os 12 anos, fala assustado: “menino, há dois meses atrás eu passava pelo rio sem molhar a canela, eu nunca vi isso”.

Enquanto a sinfônica jovem tocava no sábado à noite em  Pirapora, para sobreviver à seca do rio São Francisco, um temporal atingia a região central do Sul do país, alagando muitas cidades.

O velho Chico está morrendo, antes mesmo de despejar suas águas doces no salgado oceano Atlântico.

 

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Uma carona não autorizada http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/09/uma-carona-nao-autorizada/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/09/uma-carona-nao-autorizada/#respond Fri, 09 Oct 2015 09:45:04 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=255 Continue lendo →]]> Depois de deixar o andarilho Mauro seguir seu caminho para o Sul, eu segui para o Norte na MG-428, próximo de Sacramento (MG). Resolvi não pegar carona também e segui a pé, para refletir sobre as coisas da vida.

Andei por cerca de duas horas, sem ideia de quantos quilômetros isso deu, mas senti que havia feito algo errado. Não encontrei posto, a água na garrafa secou e o sol castigava minha testa.

Foi quando vi um caminhão encostado bem do meu lado da pista. Achei ali uma boa oportunidade de conseguir uma carona, ao menos até o posto mais próximo.

Ao me aproximar, vi o motorista deitado embaixo do caminhão, e perguntei se estava tudo bem, se ele queria ajuda. Ele, meio assustado de ver alguém com uma mochila nas costas chegar de repente, disse que estava tudo bem, só a mangueira do ar que havia soltado.

Fiz cara de quem trabalhou na autorizada da Volvo, a marca do caminhão, e perguntei se ele gostaria que eu desse uma olhada. “Não precisa, já encaixei”, disse.

Aproveitei que ele se levantou e me apresentei. Disse que precisava de uma carona, mas ele foi categórico: “ amigo, a empresa proíbe caronas”.

Resolvi insistir, diante do meu cansaço e da sede, mas ele caminhou para a frente do caminhão e disse que infelizmente não poderia me ajudar.

Enquanto ele subia na cabine, perguntei se ele tinha um pouco de água para me dar. A  porta continuava aberta e, depois de um silêncio de alguns segundos,  ele desceu e disse que me levaria até aproxima cidade. “ Mas reza para não acontecer nada, senão sou demitido”, afirmou.

Ao embarcar, eu perguntei há quantos anos ele estava estrada.  Ele disse que há mais de 15.

Perguntei se já havia acontecido alguma coisa grave.  Ele respondeu que não. “Então não vai ser desta vez, acredite em mim”, eu retruquei.

A carona, que era apenas para a próxima cidade –Araxá (MG),  cerca de 85 quilômetros– acabou se estendendo até Pirapora (MG), 490 quilômetros a diante.

Ele disse que me deixaria um pouco antes de Pirapora e fomos conversando. Pedi para tirar fotos da estrada, para meu registro e para o blog que escrevo, ele só disse para que não mostrasse o caminhão.

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Perguntei seu nome e ele disse “Berto”, e que poderia colocar no meu trabalho sem problemas. “Afinal, Berto tem um milhão na estrada, né?”, disse ele sem medo de ser reconhecido.

Fomos conversando sobre tudo, a vida de caminhoneiro, as dificuldades, os acidentes, futebol e, claro, mulheres.

Berto, disse que é casado há 20 anos. Afirmou que a mulher não era mais virgem quando se conheceram, mas que ele aceitou porque gostava muito dela.  Hoje eles têm uma filha de 10 anos.

Na chegada a Pirapora, antes de desembarcar, me despeço dele falando um trecho da música de Tim Maia.

“Berto, o mais importante na vida “é ser feliz por ser amado por alguém”.

Desembarco em Pirapora, no fim de tarde, no meu  25º dia de viagem pelo Brasil.

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Maluco de estrada http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/08/maluco-de-estrada/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/08/maluco-de-estrada/#respond Thu, 08 Oct 2015 09:20:41 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=249 Continue lendo →]]> Depois de conseguir uma carona em um caminhão de ração a granel e deixar o Arraial de Desemboque (MG) no meu 24º dia de viagem pelo Brasil, consigo chegar a Sacramento (MG) e sigo na avenida sentido à rodovia para tentar a carona para o Norte do país.

No caminho, um homem sentado embaixo de uma árvore me pergunta para onde eu estou indo.

Logo percebo se tratar de um colega de estrada. Com ele, apenas um cobertor, uma jaqueta e, aos seus pés,  duas garrafinhas de refrigerante e um doce de leite.

Pergunto seu nome e digo que estou indo para o Norte. Mauro Alves, 54, fala que quer ir para o litoral, que é da cidade de Franca (SP), do bairro Jardim Derminio.

Parei por ali e comecei a conversar sobre caronas e pedi para tirar algumas fotos dele, para minhas lembranças e para colocar no blog. Ele não se incomoda e até dá um sorriso.

  O andarilho Mauro Alves 54  acende cigarro, em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG  .( Foto Joel Silva / Folhapress.)

O andarilho Mauro Alves 54 acende cigarro, em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG ( Foto Joel Silva / Folhapress)

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Detalhe dos pés do  andarilho,  Mauro Alves 54 em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG(  . (Foto Joel Silva / Folhapress.)

Detalhe dos pés do andarilho, Mauro Alves 54 em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG (Foto Joel Silva / Folhapress)

Detalhe de crucifixo de madeira  do  andarilho,  Mauro Alves 54 em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG  . (Foto Joel Silva / Folhapress.)

Detalhe de crucifixo de madeira do andarilho, Mauro Alves 54 em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG (Foto Joel Silva / Folhapress)

Prestativo, diz que para um cara como eu é fácil, que tenho boa aparência. Eu, então, pergunto como ele vai chegar até o litoral.

Mauro responde que não sabe, mas que vai de qualquer maneira. Ao mesmo tempo em que me responde, se levanta e começa a juntar suas poucas coisas, dentro de um cobertor, e segue sentido à rodovia MG-428. Eu pergunto se poderia acompanhá-lo, e ele apenas abana a cabeça positivamente.

Tento uma conversa para saber qual segredo de pegar caronas, ele começa a falar, mas logo troca de assunto.

“Rapaz, a coisa mais triste é um filho abandonar um pai”, diz ele já com os olhos lacrimejando, enquanto caminhava, segurando o cobertor nas costas como uma trouxa.

Percebo que o assunto é delicado, tento desconversar para não trazer mais dor a sua ferida. Ele até entra na minha conversa, mas logo fecha a mão e bate no peito. “Temos que ter fé, né, irmão?”, diz ele, de novo com os olhos lacrimejados.

Eu entro na conversa e pergunto se sua família sabia onde ele estava. Ele muda de assunto e me pergunta para onde eu vou.

Durante alguns quilômetros, fomos conversando e até conseguimos dar algumas risadas sobre nossas aventuras de estrada.

Conto que tive que suportar granizo e frio no Sul, e ele então diz que teve sua barraca apreendida, mas não sabia dizer quem pegou. Eu me ofereço de descobrir e recuperá-la, mas ele se recusa.

Ofereço então para ajudá-lo a pegar alguma carona, e novamente ele recusou.

Na verdade, Mauro não queria ir a lugar algum. A estrada para ele é um refúgio.

Ele se cala e não responde mais às minhas perguntas, segue em silêncio. Percebo que ele quer ficar sozinho e então digo que vou atravessar a pista, e falo para ele ir com Deus.

Mauro fecha mão, bate no peito e diz “Deus está com você irmão, vai na fé”.

Atravesso e sigo o caminho contrário, já que o destino dele é diferente do meu.

 O andarilho Mauro Alves 54, em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG  . (Foto Joel Silva / Folhapress.)

O andarilho Mauro Alves 54, em canteiro na saída da cidade de Sacramento, MG (Foto Joel Silva / Folhapress)

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Vinte e sete habitantes em Desemboque http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/07/vinte-e-sete-habitantes-em-desemboque/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/07/vinte-e-sete-habitantes-em-desemboque/#respond Wed, 07 Oct 2015 10:20:42 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=231 Continue lendo →]]> “Homens de extrema bravura, desterrados do seu próprio mundo, fundaram no sertão da farinha podre em 1743 a capela de Nossa Senhora do Desterro, dando início ao povoado de Desemboque, marco inicial da colonização do Brasil central.”

É esta frase, de Hidelbrando Pontes, escrita em um grande muro logo na entrada, que recepciona os visitantes. No fim da tarde do dia 5 de outubro eu desembarquei no Arraial de Desemboque (MG), uma pequena vila encravada nas montanhas do sul de Minas Gerais, no distrito de Sacramento, terra do ator Lima Duarte e que tem como filha ilustre a primeira escritora negra do Brasil, Carolina de Jesus.

Depois de ficar por dois dias em Sacramento (MG) –já que o ônibus só sai a cada dois dias, e onde tive de gastar R$ 90 em hospedagem e comida no centenário hotel da cidade–, consegui uma carona.

Ela veio com o professor Carlos Alberto Cerchi, 65, historiador e profundo conhecedor da história do Arraial, junto com sua esposa Maria de Fátima Archanjo, 44, e seu bebê Olga, de dois meses.

Os ponteiros do relógio em Desemboque parecem girar lentamente: a cidade não parou no tempo, mas se recusa a correr, e a vida segue em outro tempo. “Aqui somos donos do nosso tempo” diz Maria de Fatima, uma paulistana que adotou a região.

E de fato é. Ao andar pela “currutela”, como eles mesmo definem, e encontrarmos o sr. José de Moura, Carlos me orienta que ali não se deve  cumprimentar de longe. É preciso chegar perto para conversar e eles não gostam de falar alto. O cumprimento de mãos também não segue os nossos padrões, a mão é levantada e não se aperta, apenas encosta.

José Moura, que morava em fazenda ali perto, foi forçado a viver em Desemboque após uma bronquite. Ele não reclama, mas sente falta da fazenda, onde diz que é mais sossegado.

Ao descer um pouco mais pela vila, encontramos o sr. José Renato. Pergunto então se ele tem ideia de quantas pessoas moram ali e ele, sem sair do lugar, faz um rápido senso. “Deixa eu ver, do lado de cá tem, 1, 2, 3.. e depois do lado de lá tem 25, 26, 27…”, e conclui com precisão, 27 pessoas.

 

  Igreja  de N. S. do Desterro,  com cemitério em frente,  onde somente brancos eram enterrados ,  no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG . Foto (Joel Silva /Folhapress.)

Igreja de N. S. do Desterro, com cemitério em frente, onde somente brancos eram enterrados , no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG (Joel Silva /Folhapress)

 

, Igreja de   N. S. Do Rosário,   que era frequentada por negros,  no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG . (Foto Joel Silva/ Folhapress).

, Igreja de N. S. Do Rosário, que era frequentada por negros, no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG (Foto Joel Silva/ Folhapress)

 

Desemboque tem duas igrejas, uma fica bem na entrada e é a dos negros, N. S. do Rosário –apesar de não existir um único negro no pequeno vilarejo. A dos brancos, N. S. do Desterro, fica a cerca de 300 metros mais abaixo. Bem na frente há um cemitério onde existem túmulos de 1893 e, segundo as histórias, somente brancos eram enterrados.

À noite, recebo no acampamento que montei bem no meio do arraial a visita do morador Lazaro Francisco Paula, 70, que estranhou o movimento da barraca e foi verificar de perto o que era.

 

  Lazaro Francisco Paula, 70,  no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG . () Joel Silva / Folhapress.

Lazaro Francisco Paula, 70, no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG (Joel Silva / Folhapress)

Depois de me apresentar ele esticou sua mão e apenas encostou na minha, como é o habito local.

Ele conta que só saiu de Desemboque uma única vez na vida e que não ficou fora mais que 11 meses pois não aguentou a agitação da cidade grande. Eu então perguntei onde ele morou: “Sacramento”, disse ele, uma cidade  que tem menos de 25 mil habitantes e é bastante pacata.

Segundo o historiador Carlos, que dá aulas de biologia, Desemboque foi uma resistência de índios e negros a colonização. Somente depois de 1743 eles foram vencidos, abrindo a porta de entrada da colonização do Brasil central.

Desemboque tem 27 habitantes, duas igrejas, 15 cachorros e muitas histórias

 

Barraca montada nos fundos da   Igreja  do N. S. do Desterro, com  cemitério onde somente brancos eram enterrados  no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG . (Foto Joel Silva / Folhapress. )

Barraca montada nos fundos da Igreja do N. S. do Desterro, com cemitério onde somente brancos eram enterrados no Arraial de Desemboque, distrito de Sacramento, MG (Foto Joel Silva / Folhapress )

 

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As casas flutuantes do Rio Grande http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/05/as-casas-flutuantes-do-rio-grand/ http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/2015/10/05/as-casas-flutuantes-do-rio-grand/#respond Mon, 05 Oct 2015 10:06:27 +0000 http://malucodebr.blogfolha.uol.com.br/?p=222 Continue lendo →]]> Já passava das 19h quando cheguei a Olímpia (SP), utilizando ainda da técnica de ficar próximo a uma quebra-molas. Consegui com que João Gilberto, 28, não o cantor mundialmente famoso, mas o serralheiro da cidade, que dirigia uma velha Brasília amarela, toda enferrujada e sem o banco do lado do carona. Ele retirou o assento para dar espaço às peças de metal que transporta.

Perguntei se ele conhecia o cantor. Ele disse que sim, mas que, cantar mesmo, nem debaixo do chuveiro. Seu negócio era soldar chapas de aço e portões.

 João Gilberto, serralheiro em sua Brasilia velha 74, na zona rural de Guaraci . (Foto Joel Silva / Folhapress).

João Gilberto, serralheiro em sua Brasilia velha 74, na zona rural de Guaraci (Foto Joel Silva / Folhapress)

Chegando na zona rural e às margens do grande lago, montei minha barraca na escuridão e apaguei.

No dia seguinte, ao abrir uma fresta na barraca para ver a paisagem, tomei um susto. Uma casa flutuava bem no meio da represa.

Me levantei ainda coçando os olhos e saí para ver de perto. Era mesmo uma casa flutuando no grande lago, eu não estava sonhando.

Fiquei ali por alguns minutos, tentando entender porque alguém faria uma casa e colocaria em uma represa?

Talvez o proprietário estava buscando ficar sozinho, e ter uma casa flutuante dificultaria qualquer pessoa de se aproximar. Talvez ele buscava não ser incomodado.

Percebi de longe um movimento de alguém, mas preferi não chamar, apesar da curiosidade em saber mais sobre como é morar no meio de uma represa.

  Acampamento montado as margens da represa do Rio grande, em Guaraci SP. Ao fundo casas flutuantes.  (Foto Joel Silva / Folhapress.)

Acampamento montado as margens da represa do Rio grande, em Guaraci SP. Ao fundo casas flutuantes (Foto Joel Silva / Folhapress)

Enquanto observava a casa, fui em um ponto de água onde existe uma ducha para um banho matinal. Percebi mais outras casas ao longo da represa. Parece ser uma nova moda no interior.

As pessoas estão cada vez mais buscando o isolamento. Morar no meio de um lago é uma forma de viver sem as perturbações da cidade, sem vizinho com som alto, carros na rua buzinado, sirenes. Ou até mesmo para se prevenir de assaltos, já que o assaltante terá de chegar de barco.

Uma outra vantagem é que, quando se estiver com fome, basta lançar uma vara e pescar o próprio alimento no quintal de casa.

Descobri com um pescador local, que as casas são de turistas,  que vão passar o fim de semana na represa.

Desmontei a barraca e peguei a estrada de volta. Preciso chegar ao triangulo minero e o melhor caminho é seguir por uma vicinal que liga Guaraci a Barretos (SP).

Enquanto andava, escuto uma buzina. Olho para trás, era João Gilberto, o serralheiro da cidade –não o cantor famoso.

Ele havia retornado para terminar o reparo e me deixou cinco quilômetros à frente, bem na saída para Barretos, em outro quebra-molas, onde um ônibus de passageiros, que tinha muita aparência de ser clandestino, me levou até Uberaba.

Terminei meu 20º dia de viagem pelo país, refletindo sobre as casas flutuantes da represa do Rio Grande e sobre a reclusão  cada vez mais das pessoas.

  O motorista de ônibus  Jorge, dirige ônibus de turismo entre Barretos e Uberaba  .( Foto Joel Silva / Folhapress.)

O motorista de ônibus Jorge, dirige ônibus de turismo entre Barretos e Uberaba ( Foto Joel Silva / Folhapress)

 

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