Quebra-molas de capacete
04/10/15 08:14Depois de fazer o reparo na alça da minha mochila, que arrebentou no dia anterior, em Osvaldo Cruz, decidi pegar a estrada. Chego ao meu 19º dia de viagem, desde o Chuí (RS).
Usando uma estratégia conhecida, parei bem em frente a um quebra-molas, na saída da cidade. Funcionou rápido e, em 15 minutos, o primeiro caminhão que teve que parar para passar pela lombada abriu a porta perguntou pra aonde eu iria.
Disse que poderia me deixar o mais perto de Olímpia (SP). Ele então mandou subir. Me apresentei, e ele disse seu nome: “Osinaldo dos Santos, mas pode me chamar de Quebra-molas”. Achei aquilo engraçado, já que eu o abordei bem em um.
Um sujeito engraçado, falante e que usava um capacete de segurança na cabeça. Dizia que era para se proteger do sol. É pernambucano, mas não respondeu de qual cidade. Disse apenas que era do interior.
Eu disse que estava indo para o interior de Pernambuco, mas antes passaria pelo triangulo mineiro. Ele, muito prestativo, pegou o rádio do caminhão e começou a chamar outros motoristas, com os mais variados apelidos de estrada.
“Roda preta, no QAP? Chumbinho, no QAP? Rasta gata, no QAP? E assim por diante. Disse que tem uma rede de amigos na estrada e que iria me ajudar com uma carona de Uberlândia até Pernambuco, caso eu quisesse.
Achei aquilo interessante, mas disse que não saberia o dia certo que estaria em Uberlândia. Então, ele chamou o Irmão, que estava em um ponto de frete, normalmente usado por caminhoneiros para pegar cargas e que fica em um posto, próximo de Uberlândia.
Ele passou meu nome e disse que, caso quisesse, era só chegar lá e dizer que era amigo do “Quebra-molas”.
Ao longo da viagem, paramos para um almoço. Ele perguntou se eu sabia cozinhar. Respondi que sabia o básico. Ele, então, abriu o baú que fica abaixo da carroceria e me pediu para fazer o arroz, enquanto ele preparava um cozido de carne.
Neste momento, chegaram outros caminhoneiros que vivem na mesma cidade que Quebra-molas. Eles se juntaram ao almoço.
Uma hora depois já estávamos na estrada, agora em um comboio de três caminhões que seguiam para o mesmo destino: o interior de Pernambuco.
Quebra-molas não reclama da estrada, acha que estão boas, mas, com o aumento do combustível, já calcula o prejuízo naquela viagem. Diz que ser caminhoneiro não está mais valendo a pena. Ele que está há 20 dias sem ver a mulher.
Minha carona termina próximo à cidade de Olímpia, interior de São Paulo. Ele me deixou bem no quebra-molas da entrada da cidade. Agradeci a carona e ele seguiu.
Ao desembarcar, apoio minha mochila em uma arvore de eucalipto, próximo ao acostamento, e percebo uma frase escrita em seu tronco.
“Passei aqui pra dizer, volta pra casa, Jesus te ama”. Não achei que fosse pra mim.